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Não sou de cá, nem sou de lá .

Talvez me tenha perdido. Talvez até não seja de agora. Perdi-me lá atrás, faz tempo, naquele fim de verão. Perdi-me naquela noite, em que passei a fronteira e por muito que tentasse - oh, se tentei - deixei de avistar a bandeira da minha pátria. Perdi-me quando os dentes começaram a ranger; quando a boca começou a soar menos; quando as altas montanhas, com picos de neve, deixaram de aparecer no meu feliz campo de visão. Perdi-me quando comecei a pertencer a multidões; quando a saudade, ansiosa por ser morta, me transformou em besta sem espelhos. Perdi-me, e por me perder, perdi. Perdi pessoas, oportunidades, perdi sonhos e inclusive perdi o sono. Perdi tanto mais do que tudo o que já ganhara. Perdi o ar puro, perdi a genuinidade. Deixei de saber o que era sorrir, desaprendi a ser eu. Ganhei um vazio de alma do tamanho de sete Terras, ganhei saudade e um coração amargurado. Descobri o arrependimento, e então teria sido bom descobrir uma forma de voltar - mas não havia, assim como continua a não haver.
Agora, não sou de cá nem sou de lá. Agora já sou menos que um clandestino sem identificação. Agora, sou apenas um peso para quem com bom coração me tem, sou apenas um ser qualquer que vagueia e que estorva.
Hoje sei que o meu lugar era lá. Hoje, tenho mais certeza de que nunca hei-de conseguir pertencer aqui.


Privei-me para o resto da vida da felicidade, e tudo de forma tão inconsciente .