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Estou espantada comigo mesma, espantada com o meu ser e com a minha (nova) personalidade. Eu que desde sempre fui tão melo-dramática e exageradamente choramingas, estou numa de frieza e indiferença perante a situação que nesta altura me deveria ter deixado de rastos. Era de esperar que após o fim de algo que me era tão chegado ao coração - e de o ter visto com outra após apenas duas semanas - eu estivesse deprimida e a chorar em cada esquina da casa onde moro e nem é minha. Contudo não é isto que se passa. Estou completamente indiferente à situação. E nem me questiono o porquê, porque sinceramente pouco me importa. Consegui finalmente fazer o que tantas vezes a minha Pê teimou em ensinar-me: fazer do coração ponte forte, e não fraquezas. Ora, aqui estou eu, íntegra e completa, calma e muito sinceramente, contente.
Estou aqui, e depois de tudo o que seria de esperar , no meu pensamento estão apenas eles e elas, aqueles que importam, aqueles que fazem de mim forte e não fraca, aqueles que me erguem a seguir a cada batalha, aqueles que curam o meu coração com distracções, abraços e sorrisos - montes deles. Aqueles que estão presentes sempre, mesmo quando não podem, aqueles que ouvem mesmo quando o assunto já cansa, aqueles que me abrem os olhos quando algo fiz mal, aqueles que me abraçam sem ser necessário motivo. No meu pensamento estão apenas estes, os que valem a pena.

Heart memories's box.

Como ele acelera. Bate, bate e não para. Roda e se torce, e se preciso se cose. Pula e chora. Tem sentido duplo das coisas. Cuida dele. É robusto. Faz de tudo para cuidar de mim, mesmo quando eu sempre cuidei tão pouco dele. Usei-o com qualquer indivíduo, dei-o de boa fé a tantos seres, fi-lo sofrer, rasguei-o. Cheguei mesmo a matá-lo. E ele está lá. Danificado, mas ainda bate. Fá-lo por mim. Por mim ele bate e tenta recompor-se. Fá-lo, porque tal como eu te espera, vos sente. Te espera, ó tu do futuro. Vos sente, ó vós do passado. Ele, que mesmo quando de cerebelo eu já não funcionar bem, há-de despontar em mim o vício. Há-de desencadear as recordações de sempre. Poderei já não vê-las. Os olhos estarão gastos e podres, cansados da rotina que me desgastou. Mas com ele, hei-de senti-las. Às emoções e às memórias. Elas que desde sempre me possuíram e moldaram. No bem e no mal. Tanto me são, que sei, que mesmo após  a perda de qualquer sentido, com ele hei-de sentir. Com ele, meu coração.

Montes de pedra de merda.

Nunca cheguei ao fim. Falo no geral. Seja o que for, nunca concretizei o que desejava. Ou chego apenas a meio, ou nem sequer lhe dou início. Foi sempre assim, e se alguma vez não o foi, de momento não me ocorre! Construí sonhos, todos amontoados. Talvez por achar que assim teria direito a mais. Mas de nada adiantou. Percebia que eram demasiado pesados, então largava-os no mar e deixava que a água os levasse. Outros, antes mesmo de os começar, largava-os ao sabor do vento, evitando idas e voltas ao mundo do fracasso. Tantos que tive, quase tantos mais os que larguei. Muitos, ainda bateram à porta insistentemente mais tarde, mas por poucos permaneceram dentro. Nunca me dei ao trabalho, por achar que era tarefa minuciosa demais para mim ou até mesmo por não ter certezas. Quando neles me metia de mente e alma, tudo ruía, mesmo em cima do corpo. Os sonhos, os desejos, são castelos em montes de pedra, elas rugem e tu cais. No amor, a merda é a mesma. Sorris no topo, mas na realidade voas sozinhas. Quando o notas, bates com o fucinho no chão.

De ora em diante, sonhos, só mesmo os necessários. Daqueles que não fazem nós na barriga, apertos no coração, nem fazem mal à alma*

A estante.

Pó. Tanto dele que encontro rodeando a estante. Esta por sua vez, está vazia de livros. Não preenche os espaços devidos. Ando à sua volta, tentando perceber de que material é feita: de sonhos destruídos, parece - o que explica o estado degradante. Piso de improviso e sem me aperceber algo com certo relevo, disposto no chão. É um dos livros que devia estar nessa estante, mas não mais há em redor. Sacudo-lhe o mofo que o envolve, leio-lhe o título - "Vida desfeita, a tua" .
Olho para cada prateleira - que muitas são - em cada uma está gravado o meu nome e uma faixa etária. A mais cimeira, diz "Marilena no fim da história".
Vejo que nessa cimeira, há um espaço onde o pó não chegou - foi daí que o livro caiu.
Não há memórias nem escritos de tudo o que fui, de tudo o que fiz, porque no fim, nada importa, nada tem valor, se termino assim , desfeita.