
Faz tanto tempo que não tinha um dia assim. Não me lembrava sequer de como era sentir-me de tal jeito. Desfeita, assombrada, ridiculamente perturbada e incapaz de me recompor. Há tanto que não me envolvia naquele pranto imenso sem conseguir tomar controlo. Latejava-me a cabeça, tremia todo o corpo, as lágrimas corriam sem cessar, molhando a roupa que trazia e o lençol em que me enrolara. Passei a noite inteira nesse transtorno psíquico. Não vi o sono aproximar-se, e até a este momento, as únicas vezes que as pálpebras fecharam foi para tentar sacudir as lágrimas que se colavam ás pestanas. Agora que acalmei, penso : como cheguei a este ponto, como sequer cá cheguei por tua causa, que visto o sucedido não mereces nada de mim, nem sorriso nem lágrima. Diabos te levem pelo mal que me estás a fazer ainda. Como me pude eu reduzir a isto, como sequer me apeguei a ti, pelo que és, não sei. Mas há-de terminar. Hei-de conseguir por travão a isto, seja sentimento ou carência, seja real ou pura parvoíce. Hei-de triunfar, sem ti, sem ninguém. Hei-de rir-me de ti e de tudo isto.
- Hei-de, não hei-de ?